23 de outubro de 2015

Outubro Especial: Maurício Gomyde

Amigos para toda a vida

Escrever é uma arte solitária e ao mesmo tempo do tipo que não deixa o autor sozinho. Solitária, porque tudo nasce dentro da cabeça do autor, cada detalhe, cenário, frase ou diálogo, e ele tem, no fim das contas, que fazer tudo aquilo sem a ajuda de ninguém. E é do tipo que nunca deixa o autor sozinho porque, uma vez concebidos os personagens, eles não deixam de aparecer nem sequer um momento do dia.

Durante a escrita do livro, os personagens me perseguem, dormem e acordam comigo. Tomam café da manhã, entram no carro e ficam buzinando suas queixas nos meus ouvidos. Algumas vezes os descarto, se forem chatos demais, e basta simplesmente deletá-los das páginas para que desapareçam para sempre. Mas os bons personagens, esses sim, ficam ali, ao lado. São fiéis companheiros, sorriem e choram comigo. São os que levo para o resto da vida, impressos nas páginas de minhas histórias.

E se tem uma coisa que já aprendi é: não adianta eu querer explicar a alguém como é determinado personagem, antes de pronto o livro. Já tentei fazer isso inúmeras vezes e é impressionante como não consigo transmitir nem 10% do que fervilha na mente. Não consigo transmitir sua aparência, nem como ele atua no calor das cenas. Aprendi a deixar pra lá. Acho que o livro deve cair na mão do leitor e, então, se eu tiver sido suficientemente hábil, ele entenderá exatamente quem são os atores daquela trama. Muitos personagens serão amados, outros odiados, alguns passarão despercebidos.

Tenho personagens que, realmente, tornaram-se meus amigos: Ele e Ela (O mundo de vidro); Marina Albertini, Thaís e Fran (Ainda não te disse nada); Tomas Ventura e Aurora (O rosto que precede o sonho); Bruno e Micaela (Dias melhores pra sempre); Vinícius Becker, Valentina e Vida (A máquina de contar histórias); e, agora, Pedro, Fit, Cristal e Mayla (Surpreendente!). Isso sem falar nos personagens secundários (e eu precisaria de muitas linhas para colocar todos!). São meus filhos, irmãos, amigos. Sempre imagino que, quando eu morrer, vou encontrá-los em algum lugar. Sério, penso mesmo! Não sei onde, mas me parece que em algum “céu” para onde vão os personagens após você concluir um livro. O que sei é que, enfim, terei oportunidade de ouvir muito, e não mais ser o dono da palavra.

Que seja solitária ou cheia de personagens, minha alegria é esta: a de saber que ainda vou conhecer muita gente bacana saída de minha mente. E que cada um vai se tornar um grande companheiro na estrada da vida.

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Leio na Rede, Gaby Monteiro

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