Amigos para toda a vida
Escrever é uma arte solitária e
ao mesmo tempo do tipo que não deixa o autor sozinho. Solitária, porque tudo
nasce dentro da cabeça do autor, cada detalhe, cenário, frase ou diálogo, e ele
tem, no fim das contas, que fazer tudo aquilo sem a ajuda de ninguém. E é do
tipo que nunca deixa o autor sozinho porque, uma vez concebidos os personagens,
eles não deixam de aparecer nem sequer um momento do dia.
Durante a escrita do livro, os
personagens me perseguem, dormem e acordam comigo. Tomam café da manhã, entram
no carro e ficam buzinando suas queixas nos meus ouvidos. Algumas vezes os
descarto, se forem chatos demais, e basta simplesmente deletá-los das páginas
para que desapareçam para sempre. Mas os bons personagens, esses sim, ficam
ali, ao lado. São fiéis companheiros, sorriem e choram comigo. São os que levo
para o resto da vida, impressos nas páginas de minhas histórias.
E se tem uma coisa que já aprendi
é: não adianta eu querer explicar a alguém como é determinado personagem, antes
de pronto o livro. Já tentei fazer isso inúmeras vezes e é impressionante como
não consigo transmitir nem 10% do que fervilha na mente. Não consigo transmitir
sua aparência, nem como ele atua no calor das cenas. Aprendi a deixar pra lá. Acho
que o livro deve cair na mão do leitor e, então, se eu tiver sido
suficientemente hábil, ele entenderá exatamente quem são os atores daquela
trama. Muitos personagens serão amados, outros odiados, alguns passarão
despercebidos.
Tenho personagens que, realmente,
tornaram-se meus amigos: Ele e Ela (O mundo de vidro); Marina Albertini, Thaís
e Fran (Ainda não te disse nada); Tomas Ventura e Aurora (O rosto que precede o
sonho); Bruno e Micaela (Dias melhores pra sempre); Vinícius Becker, Valentina
e Vida (A máquina de contar histórias); e, agora, Pedro, Fit, Cristal e Mayla
(Surpreendente!). Isso sem falar nos personagens secundários (e eu precisaria
de muitas linhas para colocar todos!). São meus filhos, irmãos, amigos. Sempre
imagino que, quando eu morrer, vou encontrá-los em algum lugar. Sério, penso
mesmo! Não sei onde, mas me parece que em algum “céu” para onde vão os
personagens após você concluir um livro. O que sei é que, enfim, terei
oportunidade de ouvir muito, e não mais ser o dono da palavra.
Que seja solitária ou cheia de
personagens, minha alegria é esta: a de saber que ainda vou conhecer muita
gente bacana saída de minha mente. E que cada um vai se tornar um grande
companheiro na estrada da vida.
Para ler outros textos do Outubro Especial, clique aqui.
Nenhum comentário:
Postar um comentário