5 de novembro de 2015

Crônica: Augusto Alvarenga

Ontem, naquele ataque de saudosismo e nostalgia maior, abri aquela gaveta que eu sempre tento esquecer e achei o que eu sempre tento esconder. 
Lá dentro estavam todos os pedaços de nós dois que sobreviveram à bagunça: as cartas, aquela flor seca que você me deu, o cartão de natal, um desenho e outro... Claro que eu não consegui dormir enquanto eu não escutasse a playlist que você me deu, e aquela outra, “Let me taste your lips again”, que eu fiz para você depois que nos beijamos no cinema. Coloquei nela todas as músicas que a gente foi escolhendo enquanto se beijava, sem dar a mínima pro filme, e sentindo aquelas músicas no fone e os seus lábios no meu. No final, coloquei mais algumas que eu esperava ouvir quando te beijasse de novo, como o próprio nome na playlist sugere.
Não preciso dizer que isso nunca aconteceu, preciso?
Foi bem difícil passar por todas aquelas músicas de novo, sabe? E não agora, um ano depois do barco ter afundado e tudo já ter se tornado apenas cinzas. Doeu esse tempo todo. Tem aqueles cinco CDs na estante que eu nunca mais toquei, tem aquela sua foto ali que eu nem tive coragem de tirar da parede esperando que um dia você voltasse e ela fizesse sentido de novo.
E eu ainda me lembro de toda as palavras, os desenhos e as promessas, os sorrisos e as músicas que cantavam o que nosso coração sentia: que o nosso gostar era mútuo, e que a gente não queria menos do que o que tínhamos. Mesmo sem saber o que éramos, queríamos mais.
Mas acho que quando se ama é assim, a gente se promete tanto que não pode cumprir e nem sabe disso...
Se eu pudesse, criaria um mundo novo e melhor para nós dois e mais ninguém. E nesse mundo, viveríamos rodeados das nossas músicas, ficaríamos cantarolando até o dia clarear e te mostraria como fomos feitos do amor.
Mas como dizia Jeneci, “a gente é feito pra acabar”. 
Pena que a gente só descobre isso quando tudo acabou, mas nem assim se conforma.


Leio na Rede, Gaby Monteiro

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