14 de janeiro de 2016

Pensando na Rede: Chuva

Leio na Rede, Gaby Monteiro

Levantei de minha cadeira e me dirigi à janela. As gotas, fracas, mas precisas, da chuva caíam sem parar. Abri uma fresta na janela e logo aquele vento frio se apoderou e levou todo o calor que meu agasalho me dispunha. Respirei fundo, com os olhos fechados, soltei o ar pela boca e, por breves segundos tive a sensação de liberdade, como se estivesse do lado de fora, na rua, correndo. Podia sentir o cheiro da chuva e, ao senti-lo junto ao vento que batia em meu rosto, me sentia mais leve, talvez mais pura.

Abri os olhos novamente e percebi as gotas caindo, o céu cinza, as pessoas correndo, fugindo daquelas gotas e daquela brisa que me traziam a sensação de ser livre. Aos poucos, fui preenchida pelo desespero daqueles que passavam, pela fadiga daqueles que paravam embaixo de alguma marquise, pelo sono e a preguiça e, só me restou voltar para minha cama, me enfiar debaixo das gostosas cobertas e relaxar. 

Com o tempo adormeci, mas até o fazer fui voltando à minha sensação habitual, a prisão que me cercava novamente me segurou, colocou meus pés nos chão e não me permitiu sonhar. Já devia ter me acostumado com essa horrível, mas cômoda, sensação da realidade, da vida monótona, da rotina, da preguiça e do sono, mas, sem saber exatamente o que, algo dentro de mim constantemente se rebelava e, minha breve sensação de liberdade, meus rápidos sonhos de estar na rua, correndo, pulando e brincando naquela fraca chuva sempre voltavam a meu ser. 

Talvez fosse  pura burrice por não entender que aquilo nunca aconteceria, talvez simples vontade infantil adormecida, mas algo era certo: os sonhos faziam parte de mim e nunca deixaria de tê-los, não importava quantas vezes a prisão me relembrasse meu lugar de presa, sempre sonharia, pois neles a vida era melhor, e era aquela vida que queria para mim.


Agosto/2013

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