19 de maio de 2016

Pensando na Rede: “Nossa, como você cresceu!”

Leio na Rede, Gaby Monteiro

Sempre tem uma tia que fala “Nossa, como você cresceu!” naquelas festas de família super legais, né? Quando eu era menor, isso me irritava profundamente e a minha vontade era dizer: “Pois é tia, sabe a vida é assim… Biologia me ensinou que a gente cresce, desenvolve e tal…”

Mas é claro que eu nunca respondi dessa forma, minha educação e minha timidez me impediram, só sorria e concordava. Hoje, já crescida, percebi que não são só as tias que fazem tal observação óbvia, qualquer pessoa que convivia com você criança e depois te encontra mais velho comenta isso. Sabe por quê? Porque a pessoa percebe que também envelheceu e ninguém gosta de constatar isso, não é mesmo?

Outro dia, encontrei uma menina com quem eu brincava. Na época ela tinha 4, hoje está com 11! Assustei quando percebi que ela já não se juntava mais ao animador da festa, já nem ligava mais para as brincadeiras, ficava sentada do lado dos pais, toda comportada! Para mim, ela continuava lá por volta dos 6, mas sete anos se passaram, tanto para ela quanto para mim… Acho que quando a gente encontra essas pessoas que não vemos há muito tempo é que a ficha cai, aí a gente percebe que o tempo passou e aquela criança fofa que gostava de brincar de casinha, hoje já está toda mocinha indo ao shopping com os amigos e certamente acha uma chatice ficar ouvindo “nó, mas você cresceu hein?” . E era exatamente essa a frase que eu pensei em falar para ela…

Agora acho que entendo. Vivemos tão preocupados com os nossos afazeres, com nossa rotina que nem percebemos o ponteiro do relógio. Só vemos as marcas do tempo deixadas em nosso ser quando encontramos algo ou alguém que não vemos há muito tempo e percebemos no outro o efeito do tempo em nós. Esse encontro com a garota me levou a refletir e, depois de muito pensar, concluí que não importa o contexto, as reações quanto ao ritmo da vida sempre serão parecidas.

Leio na Rede, Gaby Monteiro

Ontem estava olhando com minha mãe um álbum de fotos de família. Demos boas risadas ao vermos todos pequenininhos e foi aí que o quebra cabeça se encaixou, e fez sentido algo muito óbvio, mas que muitas vezes não prestamos atenção… No álbum da família tinha foto de todo mundo com 4 anos, minha mãe, meu pai, meus irmãos, eu… Depois tinha foto com 8, 12, 15, 17… E ao comparar a foto de 4 anos com a de 15 todo mundo pensa “como cresceu”. E sabe o que acontece? A minha mãe de 15 anos não deve ter gostado de ouvir várias pessoas falando isso para ela, assim como meu pai, meus irmãos e eu não gostávamos… Do mesmo jeito, meus avós não gostam de ouvir que envelheceram ao compararmos uma foto deles atual com uma da juventude…

Cada dia eu vejo com mais clareza que as fases da vida (infância, adolescência, fase adulta e velhice) tem basicamente as mesmas reações, o que muda é o contexto e as tecnologias envolvidas… A maioria das crianças odeia quando falam que cresceram ou quando perguntam do "namoradinho", a maioria dos adultos odeia quando nasce um cabelo branco ou percebem aquela ruga na testa. O que muda é que hoje as crianças largam os brinquedos muito mais cedo do que largavam na época dos meus pais, do mesmo modo que as pessoas vivem mais do que viviam na época dos meus bisavós. Além disso, a criança de hoje que não gosta de ouvir a frase sobre o crescimento, provavelmente vai ser a tia de amanhã que falará tal frase, involuntariamente, porque a vida é assim, um ciclo.

É… Acho bom minhas sobrinhas se acostumarem, porque eu com certeza serei a tia que fala “Nossa, como você cresceu!” nas festas super legais de família.

Out/2014

Texto postado pelo site Cafegrafia

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